terça-feira, 6 de novembro de 2007

To Christ it

Javaceff Christo (1935), artista búlgaro, apropria-se da geografia, do entorno, em intervenções realizadas no espaço público: ele embrulha, com telas ou tecido, monumentos, construções arquitetônicas, objetos comuns, trazendo à memória circundante um lapso significante inusitado e provocativo. O espaço geográfico como campo contaminado de subjetividades, é lugar de inscrições. O artista retoma os ready mades de Marcel Duchamp, retirando do objeto sua função primária para inscrevê-lo no campo simbólico.

Ao lado, uma polaroid de uma série que fiz com um amigo em 1998, de barracas de camelô espalhadas no centro da cidade de São Paulo. As barracas são embrulhadas em lona azul diariamente para que fiquem protegidas durante a noite. A série elabora um enunciado significante (a barraca azul como obra) que dialoga com o manifesto artístico de Christo, numa brincadeira poética. A periferia do discurso visual não remete a nada, é horizontal. Mas é no ruído gerado pelas imagens e na livre associação que a gramática de um sentido é adquirida.

** Em Paris, virada de 1999/2000, Christo fez embrulhos lilases, transparentes, nas árvores ao longo da av Champs Élysées ... andávamos e imagens de filmes eram projetadas nessas árvores, entidades a devir. E deslizávamos como dentro de um cristal. Deslumbrante. Interessante: um dia antes do Reveillon do século, um tufão devastou boa parte de Paris. E os véus lilases de Christo acabaram sudários no chão. A natureza também faz narrativas!

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