segunda-feira, 28 de junho de 2010

Pensando bem ...

Minha alma
é de menina prendada,
vestidinhos de orfanato
camisola branca, rendada,
um primeiro namorado ...

Ah, e
Longos corredores
silenciosos, sendo
atravessados por bichinhos
livres, noite adentro.

Quero-quero

Quero-quero, pouco, mas preciso.
Que voar a dois exige profundidade de asas.

Sabedoria

Era quando
Calar-se, escutando os
estacados íntimos das coisas,
revelava o flerte enigmático
entre os restos de comida e o chão.
Para então saber de nós dois, coração.

À margem dum soneto / O resto é perfume

" Tudo cai! Tudo tomba! Derrocada
Pavorosa! Não sei onde era dantes
Meu solar, meus palácios, meus mirantes!
Não sei de nada, Deus, não sei de nada!

Passa em tropel febril a cavalgada
Das paixões e loucuras triunfantes!
Rasgam-se as sedas, quebram-se os diamantes!
Não tenho nada, Deus, não tenho nada!

Pesadelos de insônia ébrios de anseio,
Loucura a esboçar-se, a anoitecer
Cada vez mais as trevas do meu seio!

Ó pavoroso mal de ser sozinha!
Ó pavoroso e atroz mal de trazer
Tantas almas a rir dentro da minha!... "

Florbela Espanca