quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Mais flores

"Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim..."


Cecília Meireles

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Objeto














o pequeno outro
é sempre de mim
e se não é dentro
é aqui
fora não é nunca
porque não é contingente
é ali
vê o bonito?
há sempre flores
na perplexidade

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Chuva no calor

Entrei em casa,
Sublinhei vocês dentro de mim
Para destacar a linha do amor
da fina camada de mim
que molha o assoalho
e range esse barulho estranho
Como chuva no calor

Encontro

Queria grudar no vidro o meu nariz de menina
Curioso do frio entre mim e lá fora
Depois, no entendimento sumário do prazer
Encostar ali os cílios úmidos e alongados
para a primeira aprendizagem do sublime de
abrir e fechar os olhos.
E assim permanecer.
Até esquecer o corpo no definitivo do vidro.
Um milagre para todos.

domingo, 8 de novembro de 2009

Pontuando

Bom desprendimento reticências
Parágrafo, travessão
Como se prendimento houvera des alguma coisa

segunda-feira, 22 de junho de 2009

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Existir

O corpo é exato, tem espessura, mas não limite. Espalha-se às vezes em ruído e ternura, encolhe-se muito quando há dor. Acasos de amor no veludo da pele. O corpo tem superfície expansiva, o da mulher muito mais: barco de gozo, canção de Jade ... lá onde o imperativo da carne afoga-se no signo da anterioridade, o singular e o nosso abrem canto em suas grades.

Maior

Os quadris largearam,

líquidos, enormes,

cobrindo o chão para que

ninguém mais pise.

A pele, clara, ríspida,

de linhagem infantil,

sombreou embaixo da vista,

para entender o sufoco

que ainda carrega no peito.

As costas endureceram

mais 5 anos e recusaram

sua natureza de curva.

Envelheço.

O corpo resiste, insiste, revela.

Unge no mundo

o parto da linguagem.

Eros-dito

Um dia a borra inócua

tornar-se-há um ponto antídoto.

Contra, inter, in, venções

para este sentido barroco, perdido.

Meu texto ordinário, 

engolido na articulação do romance,

insurgirar-se-há então a conteste,

riste em punho, benesse,

no sagrado bem-dito que

sobre mim, não por acaso,

acontece.

Inverso proporcional

Foi num dia escuro

que resvalei o segredo:

voar, mais que meu dom

é minha âncora.

terça-feira, 19 de maio de 2009

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Sarau@Poéticas














Pequeno intercâmbio poético de blogs.
Inscreva-se: lesi@uol.com.br
dia 29 de maio de 2009, 21:00h

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Fruição

Estado em que o sujeito e a coisa estão em pleno verbo.

Haikai

Entre o ver e a coisa, azul
Entre o ser e a coisa, signo
Entre eu e você, o quê?

quarta-feira, 6 de maio de 2009

terça-feira, 5 de maio de 2009

Letra Negra

Essa dor é permanência
escurecendo o corpo
no Tempo.
Carne negra, suores,
o acontecer pródigo da matéria.

Lepra-letra-negra
Minha garganta laboriosa é
claustro de gozo.
Por Isso te digo:
É no inexorável que sou.

Para que no sublime sortilégio da voz,
o fervor conheça quentura.
Berço bendito da poeta
Lepra-letra-negra
Essa sua cor é azul.

(para Lu)

Lambe-Lambe

Posso dizer do limbo, 
que é espesso e antigo.
Limbo lambe-lambe
nas paredes do corpo
desabitado.

Tantas palavras para o Nada.
Para este lugar limbo-nada
que atravessa inaudito
os minutos desavisados

Posso dizer do limbo,
que é obediente e perpétuo.
Limbo lambe-lambe
nas paredes do corpo
amado.

O Nada ladra em mim
voluptuosamente
dia e noite
exigindo palavras:
humildade, coragem,
amor.

A vida como ela é

Memória é forro de linho
num chão de madeira.
Lareira acesa em sopro de deuses,
na espera surda d'uns amantes.
Que podem ser de qualquer
tipo, crê ?

Nome próprio

Meu pai me queria Renata, e foi o único desejo de nome que ouvi dele, cisma de liberdade - desde que corintiana. Meu avô me queria Marília, mas tinha que ter Gabriela, rima de inteligência. Esses nomes todos, gosto de descascá-los feito criança interpelando a fruta: de Renata, nata, que está no leite - quentura, manhã e silêncio. De Marília, mar e ilha, - vastidão e limite, solilóquio poético para existir. E Gabriela, porcelana, nunca-vou-casar, morreu. Mais forte foi minha mãe, que numa lírica de muitos anos, escorregou seu nome dentro do meu, marcando na raiz as asas que não tenho.

Jazz

























Aqui jaz um traço,
um percalço,
um filigrama,
a umidade
de toda mulher.

Aqui um olhar abaixo,
um sentido,
uma mortalha,
há uma idade
para toda mulher.

Se Oriente



Dentro é assim

"Eu sei, quem ama muito é escravo.
Mas não obedece nunca de verdade."

(Guimarães Rosa, in não sei onde)

Retificação

Para o mesmo lugar, flores.
Para outro lugar, nomes.

Corpo

Quando posso, salvo muitos dedos de prosa em mim.
Pra não deixar de amineirar o corpo na terra mais terra do meu dentro.
Com pinga.

A mulher IN SISTE




















De quem são esses olhos?

Onde está ?




La bruja

“ Te penso.
E já não és o pensado.
És tu e mais alguém
No informe, nos guardados
Alguém
E tu mesmo sem nome, imaginado.

Te penso
Como quem quer pintar o pensamento
Colorir os muros do passado
De umas ramas finas, mergulhadas
Num luxo de tinturas
Te penso novo e vasto.
E velho
Igual a fome que tenho das funduras.”

(Hilda Hilst em Cantares)

A Razão Pura

Crítica da Razão Pura



segunda-feira, 4 de maio de 2009

Exercício de lembrar

Lembrar um espaço, num tempo, é assim:
Um frasco de pigmento fazendo ruído entre o pincél e a tela, 
tinha o cheiro do azul, mesmo quando caía no chão.
Uma vitrola arriscando em falso acordes do Satie,
dispunha da única possibilidade da nota. 
E significava.
Um Hopper, pra mim, sempre foi sem nenhuma esperança.
Mas eu amava.
As memórias do Manoel são inventadas.
As minhas não permitem verbos na mesma conjunção.
Eu sou desgarrada.

21

Mas João, teu corpo é uma memória falsa.
Feito uma sombra imolada na minha escuridão.
E esse teu corpo santo cravando certezas na nossa irmandade
faz cores, ah, esse pano quente nos teus olhos ...
Que adormeceram tão cedo em mim.

Feito Amor










Manga Rosa

A manga você gosta
a rosa róseo gosto
da boca na manga

Brincar,
Descascar risadas,
Salinas quentes

E na têmpora da fruta virgem
Surrupiar o 
vestido rosa,
Criança

Infância



















Douasa.
Fora da cama, ela me olha.
Perna alongada, distendendo as dores.
Quer respostas. Não tenho.
Mas perto dela, suavidade.
E a memória nossa, de meninas, é como um berço descansando os erros.
Amor alongado nos anos, estendendo braços, pernas, cabelos, bocas ...
Esta dança louca.
Dourada.

Paralaxias ...









Um cavalo vê as coisas oito vezes maior e angulosamente.
E você?

8 anos




















Mãe, se poesia é rimar a palavra
com o que a gente tá sentindo ...
o que acontece quando a gente
sente mais do que existem palavras ?