sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Feito eu

"Quero voltar pra casa,
pro meu quarto, pra minha cama,
meu cachorro que me dê uma lambida.
Vida.
Quero voltar pro ócio
sem sócio, negócio,
desligue o holofote
porque eu já errei o passo,
desligue, desligue."

Elisa Nazarian

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Pípi Meialonga

Tudo bem que os desenhos são da Lauren Child (eu já quis ser ela quando crescesse hehe) ... tudo bem que a Astrid Lindgren fez o livro para sua filhinha adoecida há muitos e muitos anos atrás ... e tudo bem também que ela lança mão do dom supremo das crianças, a imaginação, para construir uma menininha que flutua acima do ceticismo massacrante da educação.
Mas o fato é: Pipi Meialonga, a personagem mais cult do mundo infantil é (vamos admitir) uma pequena psicótica! Eu adoro o anarquismo dela, o charme das idéias, o jeito atrevido e ao mesmo tempo doce com que arruma alternativas para se safar do positivismo enfadonho do mundo, mas peraláaaaaaaa: ela faz uma saída pela direita muito perigosa se tomada ao pé do letra. Um exemplo meio duvidoso de coragem e onipotência que coloca muito perto do abismo crianças que já vivem engolidas no excesso de sentidos. Astrid Lindgren diz que faz livros para a criança que mora nela ... vamos relevar o fato dela ser sueca, gente. No Brasil de cada dia, nossas crianças rebolam. Ou não.


segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Travessia

"Sempre sei, realmente. Só o que eu quis, todo o tempo, o que eu pelejei para achar, era uma coisa só - a inteira - cujo significado e vislumbrado dela eu vejo que sempre tive. A que era: que existe uma receita, a norma dum caminho certo, estreito, de cada uma pessoa viver - e essa pauta cada um tem - mas a gente mesmo, no comum, não sabe encontrar; como é que, sozinho, por si, alguém ia poder encontrar e saber? " Guimarães Rosa

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Ensaio sobre a cegueira, o filme

Fui ver Ensaio sobre a cegueira e sai com a sensação de ter visto um ensaio sobre o seu oposto. O filme é de um requinte visual - o ouro e o óbvio das boas publicidades - que, de cara, o torna cego para as surpresas que nos reserva o bom cinema. Recurso repetitivo que o diretor não cansa de plantar em seu jardim cinematográfico. Excessivamente fiel, diriam as más línguas.
Mas Saramago vence - olha o desatino! -. O texto da estória sustenta a retórica arredondada de Fernando Meirelles. Hollywood não faria melhor, apesar de que a Julianne Moore ficava melhor lá mesmo: ao menos linda, ao menos ruiva, ao menos indo em direção à claridade da janela rebolando plácida com o copo de leite Molico nas mãos e não com a tesourinha Hitchcock.
E quis tentar não ser rude, juro. Que de rude basta a pobreza da generalidade e a brancura da infância dos sentidos violando o gozo nosso de cada dia. Não à toa, o estupro das senhoritas mal cheirosas me disse tão pouco sobre as sombras humanas. A obviedade blinda a capacidade de se estarrecer diante dos horrores - houve holocaustos na nossa história que nos abriram bem os olhos. 
Sobrou pouco, para os meus. Mal derramei uma lágrima na linda cena em que o senhor pirata negro toca o coração da jovem madalena numa declaração pública que por cegueira se fez íntima ... e fui levada a conformar-me no amanhecer da visão oriental, porque reteve tudo na própria iconicidade: no mar de leite, a colher do real dissolveu todas as fantasias. Graças a Deus, ops, à Meirelles.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

dois mil e oito ...

"...Lá no fundo está a morte, mas não tenha medo. Segure o relógio com uma mão, pegue com dois dedos o pino da corda, puxe-o suavemente. Agora se abre outro prazo, as árvores soltam suas folhas, os barcos correm regata, o tempo como um leque vai se enchendo de si mesmo e dele brotam o ar, as brisas da terra, a sombra de uma mulher, o perfume do pão.
Que mais quer, que mais quer? Amarre-o depressa a seu pulso, deixe-o bater em liberdade, imite-o anelante. O medo enferruja as âncoras, cada coisa que pôde ser alcançada e foi esquecida começa a corroer as veias do relógio, gangrenando o frio sangue de seus pequenos rubis. E lá no fundo está a morte se não corremos, e chegamos antes e compreendemos que já não tem importância."

Julio Cortázar - Histórias de cronópios e de famas