sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O Primo Basílio e a bem aventurança da moral da história

Há sim, fórmula do fracasso. A tábula rasa dos esteriótipos. O pecado mora mesmo ao lado (da Rede Globo). E que pecado: Eça de Queiroz deve estar se espremendo no caixão. Sua Luísa frágil, doente, ressequida de ventre ... não era isso? Aquela que amarga a descoberta do feminino na virada do século XIX e todas as reverberações do ato de ser mulher. Sim, era isso. Pois foi resumida numa histérica fútil que descobriu com o primo bonitão o que é uma boa sensualidade, pra não dizer trepada. E ainda morre por isso, não nisso.
Linda cenografia, lindos vestidos, linda interpretação da Débora Fallabela. E só! Ok, o Gianekini tá ótimo com aquele sotaque paulistano e melhor ainda quando pronuncia palavras caras `a sua ave noturna. Com um marido desses eu esperava um primo melhor. Mas temos ainda o pior: a publicidade do filme teve a coragem de lançar mão da dramaticidade de um Nelson Rodrigues para adjetivar o cotidiano pequeno burguês do casal protagonista, o que é uma infâmia: poucas vezes assisti a um filme tão moralista! E, ao contrário do que pensam as feministas, nunca houve um escritor tão femininamente despudorado, graças a Deus, obrigada. Aliás donde veio a brilhante idéia de achar que um autor tange o outro? (da WBrasil alôalô?)
De fato: o filme que não disse a que veio. Remedou o livro sem assumir riscos. Eu disse riscos, não risos. Dobrou, passou e colocou no fundo do armário a complexidade de cada um dos personagens, esvaziando todos numa troca de posições formais, e ponto. Uma penaaaa. O Primo Basílio do meu imaginário adolescente tinha toda a força do realismo português e... ah, a Marília Pêra estupenda como Juliana.
Menos coreografia do amor ... e mais densidade. Inclusive nas cenas eróticas.
Mas vá ver esperando isso: cartilha, pequeno dicionário amoroso, novela ... qualquer coisa assim. Se vc for a tarde pode valer pelos comentários das velhinhas que me fizeram companhia no cinema: ai, nossa, como ela é burrinha ... onde já se viu esquecer a calcinha que usou com o amante atrás do sofá, minha nossa !!!! Ufa, pode ser bom pra memória! As senhoras agradecem.