terça-feira, 6 de novembro de 2007

Mi casa, su casa

Eu gosto de decoração porque ela aciona uma metáfora incrível. Faz uso da memória retida nas coisas e tem um poder que nem sempre nos é acessível por outras vias: faz intercâmbio de significados debaixo do chão que você pisa e bem nas quinas das paredes que você pinta. Um lenço branco bordado, deitado no criado-mudo, ultrapassa a própria história para virar cama de terço. Que veio lá de Jerusalém. Os broches, de pano vermelho da avó e de cristais coloridos da mãe, foram fazer enfeite no abat-jour da outra linhagem da família. Ironias. Não é privilégio das coisas serem revestidas de funções inusitadas só porque o banco virou mesa? Não retiramos da arte esse poder regenerador, esse perfume âmbar misturado à acústica das nossas angústias mundanas? É por isso, meu caro, só por isso, que mi casa não é su casa.

Um comentário:

Anônimo disse...

reparei nos broches qdo estive aí...sua casa tem a sua cara.