terça-feira, 6 de novembro de 2007

Jan Saudek e a escritura do absurdo

Desde a época da faculdade fui tomada pelas imagens deste fotógrafo para nunca mais largá-las. Ele cria as cenas-mitos que vai registrar, para enunciá-las num discurso estético desestabilizador. Evoca imagens arquetípicas da humanidade nossa de cada dia e as enreda num tom melancólico e irônico.
Melancólico, porque opta por um risco dissonante ao usar ecoline sobre as fotos, numa referência nostálgica ao que vamos pintando sobre nosso desamparo original. Irônico, porque ao compor suas partituras visuais, ele brinca com o grotesco sob a forma do belo.
Tcheco, Jan Saudeck passou anos trabalhando numa fábrica , driblando a pobreza e o sistema político de seu país ao fotografar amigos, vizinhos, especialmente mulheres gordas, homens bizarros e crianças, todos nus. É como se ele retirasse as imagens do inconsciente, mas num contato muito elaborado com as fantasias: diferente dos surrealistas.
Ecolinizando sua própria nudez, o artista se vestiu.
E que magnifíco guarda-roupa nos foi dado a ver.

** a Tashen lançou recentemente uma edição especial incrível, enorme, com uma coletânia primorosa das melhores fotos. Infelismente custa 290 reais na Fnac. Mas custa 54 dólares na Amazon. Se alguém se habilitar ... me avise.

Nenhum comentário: