sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Mulher Maravilha

Eu confesso. Aos 6 anos a Lynda Carter era a minha ídala.
Foi numa noite-maravilha, muito inspirada por sinal, que o Papai Noel deu o ar de sua graça num vôo razante pelas minhas fantasias de menina. Corpete vermelho + micro short colante azul + laço mágico, braceletes e uma mega dourada faixa nos cabelos (arã, 6 anos) ... Uau, não é pouca coisa acordar Mulher-Maravilha !!! Sorte das meninas da geração 70, que tinham onde apoiar a morenice dos cabelos e as brasileiras curvas vindouras.
Entre a pasmaceira fútil da Barbie e as incríveis aventuras ao lado de amigos super heróis ah! ficamos com ela.

Ps: Mulher Maravilha, 3ª Temporada Completa, 8 DVDs - taí um presente de Papai Noel que muitas balzaquianas curtirão.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Um grou canta na sombra. Sua cria responde (I Ching)

Confúcio comenta a respeito dessa linha:

"O homem superior permanece em seu aposento. Quando ele se expressa adequadamente, em palavras, encontra aprovação mesmo a uma distância superior a mil milhas. Quanto mais da parte daqueles que estão próximos! Se o homem superior permanece em seu aposento e não se expressa adequadamente em palavras, encontra oposição mesmo a uma distância superior a mil milhas. Quanto mais da parte daqueles que estão próximos! As palavras brotam do interior de uma pessoa e exercem influência sobre os outros. As ações surgem próximo à pessoa e tornam-se visíveis à distância. Palavras e atos são como os gonzos das portas e a mola da besta do homem superior. Movendo-se, geram a honra ou a desgraça. Através de suas palavras e atos o homem superior move o céu e a terra. Não é então necessário ser cauteloso?". 

São estas palavras que me tocam.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Prelúdios intensos para os desmemoriados do amor - Hilda Hilst

Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Uma pequena estrela nas estantes

Contracapa:
"Um menino, uma marionete, um homem de teatro e ... um lobo! Com estes quatro personagens e um enredo de grande poesia, A pequena marionete conta uma história de apelo universal, que envolve leitores de todas as idades. Empregando unicamente o lápis, o papel e uma boa dose de sensibilidade e imaginação, a artista belga Gabrielle Vincent criou um livro especial: uma narrativa sem palavras, na qual os desenhos permitem vários níveis de interpretação e se gravam no coração do leitor como só acontece com as verdadeiras obras de arte."

Valentina - Guido Crepax

Valentina, a mais charmosa personagem dos quadrinhos eróticos de Crepax. Demais.

Alice

"Depois, por súbito silêncio tomadas,
Vão em fantasia perseguindo
A criança-sonho em sua jornada
Por uma terra nova e encantada,
A tagarelar com bichos pela estrada
- Ouvem crédulas, extasiadas.
E sempre que a história esgotava
Os poços da fantasia,
E debilmente eu ousava insinuar,
Na busca de o encanto quebrar:
´O resto para depois ...´
´Mas já é depois!´
Ouvia três vozes alegres a gritar."
............................................................
Esta é uma edição comentada e fac simile de Alice no país das maravilhas e de Alice através do espelho. Impecável, cheia de intervenções curiosas nos rodapés e ilustrações originais de John Tenniel.

Hiroshima mon Amour

Este filme me acordou para o cinema aos 16 anos. A direção é de Alain Resnais, e o tema uma espécie de estréia da Nouvelle Vague. Para além das imagens, ouça o texto, da Marguerite Duras, que é absolutamente lindo.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Babel

Fantástico.
O diretor Alejandro González Iñárritu fecha com chave de ouro sua trilogia. Para quem não viu: Amores Perros, 21 gramas e Babel ... sem comentários ...

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

andei a ouvir ...

Se essa rua, se essa rua fosse minha ...
eu mandava, eu mandava ladrilhar...
com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes,
para o meu, para o meu amor passar ...

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Certinências

"Só quando se tem rio fundo, ou cava de buraco, é que a gente por riba põe ponte ..." (Guimarães Rosa)

Semântica

Tem umas palavras que deixo guardadas em gavetas secretas.
E qdo perco a chave?
Aumento o vocabulário.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

e o vento levou

Alguns homens despertam o que temos de pior: a Scarlet O Hara adormecida em toda mulher.

A vida Clara da maternidade


"A minha Casa é guardiã do meu corpo

E protetora de todas minhas ardências.

E transmuta em palavra paixão e veemência."

(HH, júbilo, memória, noviciado da paixão)


A vida com ela é mais que líquida: sólida.

As aventuras de Azur e Asmar

Mais uma pérola do cinema infantil. Uma parábola árabe que encoraja novas perspectivas para o Mito do Graal. Aqui o Graal é a Fada dos Djins. E todas as instâncias simbólicas impregnando o filme através das lindas cores das feiras marroquinas, do movimento do mundo fantástico de bichos e superstições e pasme!, no alinhavo semântico que se dá através da convivência entre duas línguas tão diferentes (e o ajuste de contas entre dois irmãos).
Adoro filmes que não substimam a inteligência e a sensibilidade da criança. Esse, sem dúvida, faz parte deles.
** Na Livraria da Vila acaba de chegar um livro com as imagens do filme. O texto é tão tenebroso quanto a dublagem em português do filme, mas vale pelas imagens (copy and paste).

A rampa - Serge Daney - cahiers du cinéma 1970-1982

"O cinema é então em parte ligado à tradição metafísica ocidental, tradição do ver e da visão, na qual parece realizar a vocação ´fotológica´. O que é a ´fotologia´? Poderia ser o discurso da luz? Um discurso teleológico certamente, se é verdade que a teleologia consiste em neutralizar a duração e a força em favor da ilusão do simultâneo e da forma (Derrida)."

A rampa: temos aqui o pensamento enviezado (e atávico) de Serge Daney, numa propulsão magnífica tela adentro. Juntando seus melhores textos sobre cinema publicados nos famosos Cahiers du Cinéma, ajustados num período específico (1970-1982) e pensados sobre o tapete do estruturalismo francês.

"Assim herdávamos a aporia que vem daí. Porque aquilo que permite a esse olhar dirigir-se - a tela - torna-se objeto impossível. Ao mesmo tempo, esconderijo e janela, abertura e hímen. Invisível, torna visível; visto, torna invisível."

Está a venda na 2001 mais próxima de você. Para os cinéfilos, os críticos e um mais ainda da coletividade.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Gotan Project - Lunático


Doze faixas de tango e música eletrônica misturados de um jeito delicioso. O grupo é parisiense, mas é claro que há um argentino temperando tudo.
Dance !!!

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Codinomes

Com tantos pianos fortes na família, minha filha quer violino. Ufa.

http://www.youtube.com/watch?v=3jey-OmaKUM

** Meninas, a Vanessa Mae deixa a Vanessa Hudgens (HSM) no chinelo em todos os quesitos necessários a um bom ídolo: linda, talentosa e carismática !!! Quando eu crescer eu quero ser ela :)

Grupo Galpão ..

"O céu se serviu do amor e fez todos castigados.: os Montéquio e os Capuleto, por fraterna dor irmanados, findaram as discórdias e um a outro abraçados, prometeram-se em louros lado a lado estátuas aos filhos eternizados. No definitivo da história, Romeu Lua e Estrela Júlia celebraram o circo céu das paixões abrindo livre vereda no dentro do ferro das prisões. O sinhô siga, pois então caminhozinho seu, enquanto eu desarmo o miúdo circo meu, para noutras praças cantar a sorte mais triste que já aconteceu. O baralho de amor e morte da tragédia de Julieta e de Romeu. " (faixa 11)

Lindo, lindo, lindo, lindo, lindo. Se eu fizesse teatro, eu queria fazer o que eles fazem. Lúdico, itinerante, poético ... os mineiros cavam na própria terra um jeito muito deles de fazer arte. Neste cd, duas peças. Em Romeu e Julieta, o grupo editou as músicas mais bacanas das nossas serestras antigas, adaptando-as ao texto de Shakespeare. Delicado e surpreendentemente brasileiro. Em A Rua da Amargura, um olho no aspecto mambembe das procissões católicas, adaptado na paixão de cristo mais genuína da nossa terra.

** Tanto este cd quanto os dois dos Meninos de Araçaí estão finalmente a venda na Livraria da Vila. Corram.

Meninos de Araçaí ... o belo horizonte das canções


Joni Mitchell: Hilda Hilst da música ...musa




quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O que você escutou aí dentro?

Música signo da mãe: Shubert Impromptu Op.90 No.4
http://www.youtube.com/watch?v=RtZCVCw337U

Música signo do pai: Chopin - Fantasie Impromptu
http://www.youtube.com/watch?v=f9wYk0bQJbo

Música signo da filha: Corpse Bride
http://www.youtube.com/watch?v=s7A7ZFf9zjs

Glenn Gould

Dê uma navegada no youtube atras de Glenn Gould. O intérprete que nao se define. As fugas de Bach dele sao muiiiiito interessantes. Aliás so ele pra acordar Bach no state today dos ouvidos contemporâneos hehe.
Um Mozart
Um Bach
** tem um filme: ' 32 pequenas cenas sobre Glenn Gould ' que vi no cinema uns 10 anos atras e nunca achei em DVD. Se alguem souber ...

A Barriga do Arquiteto: Meta Greenaway

Um dos primeiros filmes de um cineasta que prima pelo rigor estético, A Barriga do Arquiteto é um legítimo avant guard. Cheio de plots simbólicos, temos uma narrativa clássica sendo digerida ao longo da história. Um arquiteto americano chega à Itália para organizar uma exposição de um arquiteto francês [Boullé], que é o ícone de toda sua formação. O personagem fica então colado num espelhamento obsessivo que vai se desenvolvendo ao longo do filme - que se funda através de dialogismos: construção e corpo, morte e nascimento, originalidade e simulacro.
O personagem começa engolido no seu sintoma: obcecado por sua própria barriga, a narrativa vai se produzindo durante os nove meses de gestação – da exposição, do filho e da doença. É assim que o filme apropria-se da idéia de tempo para amparar todo seu desenrolar conceitual. Dividindo-se em 7 etapas, o roteiro inscreve na película a própria história da arquitetura visionária de Roma – sujeito protagonista parindo novas estéticas, incluso o filme, portanto, meta-arte, num paralelo claro entre cinema e arquitetura. Gosto de pensar também na estrutura-metrônomo desse filme, em três paradigmas: A imortalidade, o estado voyeur a que o ser humano é submetido na fração de vida que lhe é concedida e em como a escolha da neurose configura sua condição de signo.
"A imortalidade é possível graças à arte e as criações humanas?"
Esta parece ser a pergunta que o cineasta elegeu. Portanto, a questão da imortalidade trabalha no câncer de intestino desse personagem. E também em toda a cadeia significante que pode ser construída ao longo do filme.
Primeiro, os desenhos de Boulée são significantes claros das formas arredondadas da mulher. São úteros, muitas vezes gravídeos, que aparecem nas imagens de seus desenhos. Em muitas cenas do filme as formas arquitetônicas arredondadas dos monumentos de Roma são retomadas em simetria com os seus desenhos. Há também convites claros para significados óbvios: torres, pirâmides e outros símbolos fálicos atravessando em pano de fundo. O filme começa, aliás, dentro de um típico símbolo fálico: um trem. Um trem adentrando Roma. Dentro da cabine, o casal protagonista está transando e uma imensa janela de vidro tem as cortinas abertas (referência à pulsão escópica de novo). Esta é a primeira cena do filme. É a cena geradora. Aliás é a cena em que eles geram o filho.
O espaço cinematográfico é, por excelência, o espaço do voyeur. Torna público e observável o que é privado e secreto. No filme há outra cena que remete particularmente a este estado de voyeurismo: o arquiteto e um menino que assistem pela fechadura de uma porta uma cena de adultério. Nesse momento, vinga o desejo de comentar – no interior e no exterior do contexto cinematográfico – a condição escópica a que ficamos humanamente submetidos (isso também é paradigmático quando pensamos que o filme gira em torno do tema de uma Exposição.)
Temos também um personagem/arquiteto que é um glutão. Insaciável na sua inconformidade a respeito da própria mortalidade começa a repetir a compulsão por comida numa cadeia de evocações miméticas da própria barriga. À medida que vai adoecendo a mente nessas questões, vão tomando corpo uma série de repetições de imagens da barriga de uma escultura que ele xeroca, desenhando sistematicamente nessas cópias os alimentos que ele mesmo ingere e reproduzindo cópias sem parar. Ele gesta a própria neurose numa metalinguagem impressionante. Converte a gravidez da mulher (para a qual ele é cego) no próprio corpo invertido. Quem cresce no seu ventre não é um filho, mas um câncer - que não deixa de ser uma forma autônoma de doença, portanto um sujeito -.
Num registro intencional do desenvolvimento de sua obsessão, passa a relatar, a inscrever (não é esse o desejo do artista?) no corpo da história (representada por Boulée) sua própria história. Este contato paranóico delirante (cartas a um ídolo morto) aplaca sua angústia de mortalidade. Tudo no filme acontece em espaços amplos, abertos, numa contraposição interessante com o espaço comprimido da barriga. Condenados na dialética. Temos um homem aprisionado no próprio narcisismo e na própria impotência – qual maior castração humana senão a morte? Nada para este personagem é cognoscível. Nada resta. Para não perder o filho/inscrição que cresce no ventre da mulher é que ele decide pelo suicídio. Garante sua continuidade metafísica na sucessão espiritual – e natural - do filho que chega. Que nasce no momento de inauguração da exposição. Signo dado a ver. Ele, sombra desnorteada que perambulou sendo destituído de recursos a história inteira, constrói a sua do alto do parapeito de um monumento. Retira do paletó objetos pessoais e deposita-os no muro a sua frente. É assim que ele circunscreve-se na imortalidade da construção arquitetônica: tornando-se uma. Seu happening: da própria barriga para o mundo, eis a cena dupla desse momento! Seu movimento psíquico é o mesmo. Incapacidade metafórica pura, este homem precisa reter seus símbolos no corpo físico. Inverte isso na cena final: momento em que ele - mais uma vez numa elucidação escópica - se coloca acima a olhar para baixo, lançando-se para trás (ou pra frente?) num suicídio reparador.

Memórias Inventadas - A infância, por Manoel de Barros

" (...) Nunca escondi aquele meu delírio erótico. Nunca escondi de meus pais aquele gosto supremo de ver. Dava a impressão que havia uma troca voraz entre a lesma e a pedra. Confesso, aliás, que eu gostava muito, a esse tempo, de todos os seres que andavam a esfregar as barrigas no chão. Lagartixas fossem muito principais do que as lesmas nesse ponto. Eram esses pequenos seres que viviam ao gosto do chão que me davam fascínio. Eu não via nenhum espetáculo mais edificante do que pertencer ao chão. Para mim esses pequenos seres tinham o privilégio de ouvir as fontes da Terra." (Iluminura número 5)

Saudades do meu avô.

É ladrão de mulher ...

Na verdade o livro rouba o coração das crianças também. As imagens são lindas, o recorte histórico é super bacana e a homenagem emociona.

Tá a venda lá no Galpão. O meu eu não empresto.





Solas de Vento

Les hommes aux semelles de vent
Teatro Gestual pela Cia Solas de Vento
"Com elementos de dança e técnicas circenses, o espetáculo aborda uma situação de convivência forçada entre dois estrangeiros, suspensos em suas malas, questionando o modo de olhar o 'Outro' ".
Criação: Bruno Rudolf e Ricardo Rodrigues
Direção: Rodrigo Matheus
Teatro do Sesc Ipiranga, quartas, as 21h.
A galera ensaia no Galpão do Circo e ficamos com água na boca !!!
Eu e Maricota iremos burlar a faixa etária de 10 anos. Rendam-se :)

terça-feira, 6 de novembro de 2007

1. mulheres do mundo ; 2. homens do mundo

Dove: http://www.youtube.com/watch?v=iYhCn0jf46U
Paródia: http://www.youtube.com/watch?v=7-kSZsvBY-A

To Christ it

Javaceff Christo (1935), artista búlgaro, apropria-se da geografia, do entorno, em intervenções realizadas no espaço público: ele embrulha, com telas ou tecido, monumentos, construções arquitetônicas, objetos comuns, trazendo à memória circundante um lapso significante inusitado e provocativo. O espaço geográfico como campo contaminado de subjetividades, é lugar de inscrições. O artista retoma os ready mades de Marcel Duchamp, retirando do objeto sua função primária para inscrevê-lo no campo simbólico.

Ao lado, uma polaroid de uma série que fiz com um amigo em 1998, de barracas de camelô espalhadas no centro da cidade de São Paulo. As barracas são embrulhadas em lona azul diariamente para que fiquem protegidas durante a noite. A série elabora um enunciado significante (a barraca azul como obra) que dialoga com o manifesto artístico de Christo, numa brincadeira poética. A periferia do discurso visual não remete a nada, é horizontal. Mas é no ruído gerado pelas imagens e na livre associação que a gramática de um sentido é adquirida.

** Em Paris, virada de 1999/2000, Christo fez embrulhos lilases, transparentes, nas árvores ao longo da av Champs Élysées ... andávamos e imagens de filmes eram projetadas nessas árvores, entidades a devir. E deslizávamos como dentro de um cristal. Deslumbrante. Interessante: um dia antes do Reveillon do século, um tufão devastou boa parte de Paris. E os véus lilases de Christo acabaram sudários no chão. A natureza também faz narrativas!

Jan Saudek e a escritura do absurdo

Desde a época da faculdade fui tomada pelas imagens deste fotógrafo para nunca mais largá-las. Ele cria as cenas-mitos que vai registrar, para enunciá-las num discurso estético desestabilizador. Evoca imagens arquetípicas da humanidade nossa de cada dia e as enreda num tom melancólico e irônico.
Melancólico, porque opta por um risco dissonante ao usar ecoline sobre as fotos, numa referência nostálgica ao que vamos pintando sobre nosso desamparo original. Irônico, porque ao compor suas partituras visuais, ele brinca com o grotesco sob a forma do belo.
Tcheco, Jan Saudeck passou anos trabalhando numa fábrica , driblando a pobreza e o sistema político de seu país ao fotografar amigos, vizinhos, especialmente mulheres gordas, homens bizarros e crianças, todos nus. É como se ele retirasse as imagens do inconsciente, mas num contato muito elaborado com as fantasias: diferente dos surrealistas.
Ecolinizando sua própria nudez, o artista se vestiu.
E que magnifíco guarda-roupa nos foi dado a ver.

** a Tashen lançou recentemente uma edição especial incrível, enorme, com uma coletânia primorosa das melhores fotos. Infelismente custa 290 reais na Fnac. Mas custa 54 dólares na Amazon. Se alguém se habilitar ... me avise.

Caixa de Pandora

"O olho grande da menina
é um pequenino olho grande
que acende a luz daquela estrela
e aquela estrela é a mais distante

Não tenha medo vovó, não tenha medo mamãe,
há muito tempo que eu não via assim ...
tá lá no livro tintin por tintin
pirlimpimpim ..."

Genteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee ...
alguém aí se lembra disso?

** ah, a Som Livre lançou o divertido Plunct Plact Zuumm com o ambulante Raul Seixas. Pegue carona nessa cauda de cometa lá na
Livraria da Vila ...

Lavoura Arcaica: um chão de tangerinas incendiadas

"Para onde estamos indo? – não importava que eu, erguendo os olhos, alcançasse paisagens muito novas, quem sabe menos ásperas, não importava que eu, caminhando, me conduzisse para regiões cada vez mais afastadas, pois haveria de ouvir claramente de meus anseios um ruído rígido, era um cascalho, um osso rigoroso, desprovido de qualquer dúvida; 'estamos indo sempre para casa.'." (Raduan Nassar, in Lavoura Arcaica: 36)

Baseado na obra homônima de Raduan Nassar, Lavoura Arcaica é uma consagração lírica da condição humana em forma de tragédia. O retorno do filho pródigo que, por ironia (ou desgraça), põe `as avessas a casa do pai. Em cena, temos André, o filho desgarrado, resgatado pelo irmão mais velho e reconduzido ao seio da família. É um retorno espiralado de fluxos e refluxos a esparramar em palavras a essência do proibido. É aqui que Pedro é atirado sem dó na factualidade do desejo, lançado na memória de um que foi tragado pela escolha de afeto da Mãe e acabou consumido no amor incestuoso pela Irmã.
Um filme que captura o espectador para uma avassaladora viagem poética, cuja passagem se compra logo na primeira cena - metáfora íngreme dessa história: a expressão dolorosa de André, numa busca desenfreada do si mesmo, desintegrando-se no ato da masturbação. Na penumbra do quarto de pensão, incidências de luz casam-se com sons de um trem trespassando a cena, foco e desfoco andando pelas partes fragmentadas do seu corpo. É luz e sombra, angústia e prazer, num passeio do olhar (o nosso) pela pele difusa de André.
É deste momento que eclode toda a memória do filme: entrave erótico, lírico, mítico e porque não um comentário sobre a função da palavra incindindo sobre um mundo ainda sem nome e por isso mesmo tão potente – porque irrestrito -.
Inscrições fundantes do mundo das imagens (mãe) e do mundo das palavras (pai), temos um fluxo da subjetividade em claro escuro numa fotografia que acompanha as expressões pulsionais do personagem, sendo ora essa claridade da infância ora a sombra obscura do seu adolescer, num jogral que entumece a vista do espectador não só em pura sensação estética, mas em identificações coladas nessas manchas animadas do desejo.
Assim, para além da origem árabe e mediterrânea desta família (que insere um sentido de cores terra cota, musicalidade hipnótica e um comentário sobre a linhagem religiosa do pai), esta lavoura é arcaica porque é um antes que trata do mito original de toda humanidade.
São essas supressões de limite - interdito do incesto -, numa cúmplice concessão aos desejos humanos, alargada em argumentos de liberdade, alegria e sensualidade que enlaçam o enredo do filme. É a brandura muda de Ana, sua trapaça. É a travessia da sua imagem mítica em toda sua potência dual que emerge da terra 'dominando a todos com seu violento ímpeto de vida' . Não importa muito sua morte pelas mãos do pai na cena final. Ela permanece.

Blue II

Voltando da viagem anterior ... de fato em todas as fotografias da minha infância eu estive vestida de azul. Tudo meu foi azul, botas, batas, meias-calça, vestidos, bonecas, camisetas, pelúcias e o tapete do quarto. Tudo azul.

Engraçado: blue também é triste...
Sin-signo ?

Nem Freud, nem Lacan: Yves, viva !

Blue I


Estou relendo meu livro do Yves Klein. Além de dar de presente à alma da gente o azul luminoso das verdades transcendentais que a arte dele endossava - oui, inventou uma nova luz para a cor azul, é química, portanto, ciência -, ele voou factualmente entre o céu e a terra. E registrou. Apenas pra mostrar que é possível.
Minhas duas paixões agarradas em um só: o azul e o voar.
Nada emudece o tempo como um vôo de paraglyder ... e a vista atravessada de azul. É como orgasmo, mas tchannnn: dura mais hehe. Por isso é melhor escolher dias claros como os da primavera. O céu é azulíssimo e os ventos, geralmente favoráveis.
Para dias chuvosos como o de hoje vale um chocolate bem forte e ... se não tiver namorado para caminhadas sensoriais inusitadas por lençóis bem brancos então lance mão de uma boa câmera fotográfica ... dias cinzentos e aguados favorecem fotografias bemmm bonitas. Através de janelas, principalmente.

Mi casa, su casa

Eu gosto de decoração porque ela aciona uma metáfora incrível. Faz uso da memória retida nas coisas e tem um poder que nem sempre nos é acessível por outras vias: faz intercâmbio de significados debaixo do chão que você pisa e bem nas quinas das paredes que você pinta. Um lenço branco bordado, deitado no criado-mudo, ultrapassa a própria história para virar cama de terço. Que veio lá de Jerusalém. Os broches, de pano vermelho da avó e de cristais coloridos da mãe, foram fazer enfeite no abat-jour da outra linhagem da família. Ironias. Não é privilégio das coisas serem revestidas de funções inusitadas só porque o banco virou mesa? Não retiramos da arte esse poder regenerador, esse perfume âmbar misturado à acústica das nossas angústias mundanas? É por isso, meu caro, só por isso, que mi casa não é su casa.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

sintaxe do amor

Eu
Tu
Ele
Nós
Vós
Eles

E um sujeito oculto conjugando verbos ...
(De todos, sou mais nós do que vós ...)

fragmentos de um discurso amoroso {tudo}

"Porque a gamação precisa do signo do repente – que me torna irresponsável, submetido a fatalidade, levado, raptado - ... o imediato vale pelo pleno...sou então iniciado" (RB)

domingo

domingo
as mães gostam de se enfiar debaixo de um cobertor pra ler um livro bonito
as mães gostam de ficar em silêncio
as mães gostam de deitar o pensamento em sensações bem bobas
como fome, arrepio, cheiro, mãos nos cabelos ...
domingo
as mães respondem com preguiça
as mães respondem com tristeza
e ficam pequenininhas
e ficam de pijamas velhos
e ficam querendo as filhas contidas nesse dia estranho
como borboletas: silenciosas e leves

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O Primo Basílio e a bem aventurança da moral da história

Há sim, fórmula do fracasso. A tábula rasa dos esteriótipos. O pecado mora mesmo ao lado (da Rede Globo). E que pecado: Eça de Queiroz deve estar se espremendo no caixão. Sua Luísa frágil, doente, ressequida de ventre ... não era isso? Aquela que amarga a descoberta do feminino na virada do século XIX e todas as reverberações do ato de ser mulher. Sim, era isso. Pois foi resumida numa histérica fútil que descobriu com o primo bonitão o que é uma boa sensualidade, pra não dizer trepada. E ainda morre por isso, não nisso.
Linda cenografia, lindos vestidos, linda interpretação da Débora Fallabela. E só! Ok, o Gianekini tá ótimo com aquele sotaque paulistano e melhor ainda quando pronuncia palavras caras `a sua ave noturna. Com um marido desses eu esperava um primo melhor. Mas temos ainda o pior: a publicidade do filme teve a coragem de lançar mão da dramaticidade de um Nelson Rodrigues para adjetivar o cotidiano pequeno burguês do casal protagonista, o que é uma infâmia: poucas vezes assisti a um filme tão moralista! E, ao contrário do que pensam as feministas, nunca houve um escritor tão femininamente despudorado, graças a Deus, obrigada. Aliás donde veio a brilhante idéia de achar que um autor tange o outro? (da WBrasil alôalô?)
De fato: o filme que não disse a que veio. Remedou o livro sem assumir riscos. Eu disse riscos, não risos. Dobrou, passou e colocou no fundo do armário a complexidade de cada um dos personagens, esvaziando todos numa troca de posições formais, e ponto. Uma penaaaa. O Primo Basílio do meu imaginário adolescente tinha toda a força do realismo português e... ah, a Marília Pêra estupenda como Juliana.
Menos coreografia do amor ... e mais densidade. Inclusive nas cenas eróticas.
Mas vá ver esperando isso: cartilha, pequeno dicionário amoroso, novela ... qualquer coisa assim. Se vc for a tarde pode valer pelos comentários das velhinhas que me fizeram companhia no cinema: ai, nossa, como ela é burrinha ... onde já se viu esquecer a calcinha que usou com o amante atrás do sofá, minha nossa !!!! Ufa, pode ser bom pra memória! As senhoras agradecem.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

algumas pérolas

"Farejo o desnecessário pelo hábito da cadeia alimentar"

"E a palavra, artimanha
da minha língua na sua boca."

"Você vai e desmancha o desejo
Na função poética do medo"

"De estar no meio do caminho quando precisava
estar no meio dos braços, acolhida, coberta, bebida."

terça-feira, 19 de junho de 2007

Sra D de derrelição

"Não compreendo o olho e tento chegar perto.Também não compreendo o corpo, essa armadilha, nem a sangrenta lógica dos dias, nem os rostos que me olham nesta vila onde moro, o que é casa, conceito, o que são as pernas, o que é ir e vir, para onde Ehud, o que são essas senhoras velhas, os ganidos da infância, os homens curvos, o que pensam de si mesmos os tolos, as crianças, o que é pensar, o que é nítido, sonoro, o que é som, trinado, urro, grito, o que é asa hein? Lixo as unhas no escuro, escuto, estou encostada à parede no vão da escada, escuto-me a mim mesma, há uns vivos lá dentro além da palavra, expressam-se mas não compreendo, pulsam, respiram, há um código no centro, um grande umbigo, dilata-se, tenta falar comigo, espio-me curvada, winds flowers astonished birds, my name is Hillé, mein name madame D, Ehud is my husband, mio marito, mi hombre, o que é um homem?"
... um copo de hilda hilst, s' il vous plaît ?!!!

segunda-feira, 4 de junho de 2007

E entrou por uma porta, saiu por outra e quem quiser que conte outra ...

Olha
a janela
da bela
Arabela
Que flor
é aquela
que Arabela
molha?
É uma flor amarela
[ Cecília Meireles,
Ou isto ou aquilo]
O povo daqui anda achando graça das minhas postagens.
É preciso achar o criançamento das palavras - não fui eu, foi o Manoel de Barros.
E que eles esquecem que depois do mundo underground (nõnõ, as raves vieram depois) eu cai de paraquedas no mundo da maternidade. E descobri que há um brilho único na infância que merece ser apreciado. Não estou falando apenas do que vc descobre dentro desse amor doido por um filho. Mas de algo que é se colocar ao lado deles, do tamaninho deles, olhando pra esse mundão afora ... ok ????????

e o palhaço o que que é?


Leve e despretensioso, uma delícia para alimentar a criança que dorme em você !

sexta-feira, 1 de junho de 2007

frio + chocolate + o que vc quiser


As palavras e as coisas

"a boca não fala
o ser (que está fora de toda linguagem):
só o ser diz o ser
a folha diz folha
sem nada dizer
o poema não diz
o que a coisa é
mas diz outra coisa
que a coisa quer ser
pois nada se basta
contente de si
o poeta empresta
às coisas sua voz - dialeto -
e o mundo
no poema se sonha completo"

Ferreira Gullar
http://portalliteral.terra.com.br/ferreira_gullar/biobiblio/index.shtml?biobiblio)

(pós) erotismo

http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/2673,1.shl

quinta-feira, 31 de maio de 2007

descoberta II

Marimari, linda flor da manhã, obrigada por descobrir este Eduardo Galeano. É por essas e outras que sabemos que a vida não vai cair para além do chão florido.

"As coisas caem dos meus bolsos e da minha memória: perco chaves, canetas, dinheiro, documentos, nomes, caras, palavras... Eu ando de perda em perda, perco o que encontro, não encontro o que busco, e sinto medo de que numa dessas distrações acabe deixando a vida cair."

blue moon: hoje, da janela mais próxima de vc


5:55 charlotte gainsburg : lindo!


atender ou não atender, eis a questão

Todos os meus amigos sabem, eu adoro tecnologias de comunicação. Sou fã do mundo binário desde que ele me foi apresentado. Mas todos eles também sabem que sou uma pessoa rebelde quando a questão é privacidade e liberdade. Portanto, minha relação com os aparelhos portáteis como telefones, ipods, palms é ambígua. Eu gosto de imaginar que eu mando neles, e não o contrário. Acho horroroso isso de ter que estar 24 horas disponível através de um número. Também acho um saco ter que personalizar tudo, numerar músicas, ter 56 avatares diferentes e construir auto-imagens portáteis o tempo todo. E se trancar neste casulo narcísico. Ou num vácuo onipotente como o second life (que seduz muito).
Vamos lá gente! O que tem de errado com a boa e velha vitrola tocando a mesma música pra casa inteira? Porque minha filha de 6 anos tem que ter um desejado mp3 player pra ouvir suas músicas sozinha quando a casa pode compartilhar isso com ela? E os celulares? Você não pode mais se dar ao luxo (e que luxo primário não?) de desligar-se do mundo porque o mundo inteiro te acha em qualquer lugar. Se alguém quer falar com vc, vc não tem o direito de denegar!!! É falta de educação. Desculpe, acho que a menininha que mora em mim faz birra com esse tipo de estatuto contemporâneo do plug and play. No fundo é a mesma Alesi de carne e osso que não gosta muito de dispositivos mágicos - eu sempre achei a disneylância muito chata: prefiro um copo de vinho.
Ps: na contramão disso tudo, confesso que adquiri um blackberry incrível. Se eu estiver na floresta amazônica eu baixo e mando meus emails por um pacote acessível de 80 reais por mês. YES !!! Mas é um viciozinho pequeno. Continuo achando celulares uma antipatia.

que tipo de fada você é?


quarta-feira, 30 de maio de 2007

Dez Chamamentos ao amigo - Hilda Hilst

"Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

[Poesia: 1959-1979 - São Paulo: Quíron; (Brasília): INL, 1980.]
Nenhuma outra poeta me abduziu como ela.

As Bicicletas de Belleville

Eu olho esta imagem ao lado e tenho vontade de ficar apenas quieta. Assim são todas as imagens desse delicado filme sobre a vida como ela é. Não a toa, é um filme quase mudo. E com uma trilha sonora desbundante.
A história, recheada de humor e bizarras estravagâncias, é um tributo `a resistência. Ufa, há esperança para outras formas de fazer cinema. Penso nesta animação como um metafilme. Um núcleo que destrincha embates conceituais mesmo, a começar pelo próprio nome, belleville-hollywood. Se você prestar atenção verá inúmeros trocadilhos ao longo das cenas.
Fora isso, diverte pelo inusitado, pelas propostas originalíssimas (e as trigêmeas assumindo as rãs sem o menor constrangimento?). Vale cada minuto da sua atenção. Eu comprei.
Um filme de Sylvain Chomet
Música de Ben Charest França - Canadá - Bélgica
Indicado para dois Oscars em 2004: Melhor Desenho Animado (perdeu para Procurando Nemo) e Melhor Canção — Belleville Rendez-vous (perdeu para a canção de O Senhor dos Anéis)
Selecionado para o Festival de Cannes (2003)

terça-feira, 29 de maio de 2007

vale a pena ouvir de novo

Se você tem entre 30 e 40 anos, então abra os ouvidos para os remix da década de 70 da Som Livre: com lançamentos que vão de Vila Sésamo a Sitio do Pica Pau Amarelo, você terá a chance de reviver canções emocionantes da sua infância.

"Todo dia é dia
Toda hora é hora
De saber que esse mundo é seu
Se você for amigo e companheiro
Com alegria e imaginação
Vivendo e sorrindo
Criando e rindo
Será muito feliz
E todos serão também..."

Vá lá, você será muito feliz:
www. submarino.com.br

domingo, 27 de maio de 2007

2 pênnes ao sugo

Intervalo de evento psicanalítico, pausa para almoço:
suas habilidades semânticas invadem o seu cardápio.

olha o passarinho !!!


Como É que Chama o Nome Disso - Antologia

Não é novidade que o processo de migração entre suportes midiáticos (verbo-visual-sonoro) atravessou séculos de história, em exercícios de contaminações e reciclagens. No contexto da literatura contemporânea, vale observar por onde andam as fraturas da linguagem poética.
Em "Como é que chama o nome disso", Arnaldo Antunes compõe um trânsito interessante que dilui e ao mesmo tempo agrega sintomas ontológicos da escritura (e da leitura), lançando o leitor numa fruição entre olhar, ouvir e estar no mundo.
Fora que é uma delícia mesmoooo passear de mãos dadas com o jeito Antunes de viajar.
"As coisas têm peso, massa, volume, tamanho, tempo, forma, cor, posição, textura, duração, densidade, cheiro, valor, consistência, profundidade, contorno, temperatura, função, aparência, preço, destino, idade, sentido. As coisas não têm paz."

Irreversivel

Um casal lindo (ela é linda, ele é francês) briga em uma festa classe B e esta mulher é estuprada na volta para casa. O filme refaz este dia na vida do casal (e de um ex-marido) de trás pra frente.
Eu aluguei este dvd 4 vezes antes de achar coragem para assistir. A contra-capa assustava. De fato, espere um momento certeiro para vê-lo, pois você será tragado por um bicho. Reserve a primeira meia hora com o estômago vazio e a mente protegida: as cenas são fortes e provocam sensações físicas desagradáveis.
Passado o susto, o que temos é um filme impressionante. Pelo tema, pela ousadia e pela forma.
De cara, ficamos colados a uma câmera que invade as cenas, rompendo as intimidades de um submundo que, por princípio, não nos pertence, mas que por ironia, encontra eco em todos nós. Não há cortes durante os blocos, o diretor traz um timing real para cada uma deles, o que provoca reações.
O tema evoca a sexualidade nas suas trajetórias mais rodrigueanas e suas emanações ficam presentes em todas as ações do filme, que são conjecturas explosivas dessa essência no feminino e no masculino. O que mostra, brilhantemente, o quanto a vida é impregnada de entropias irreversíveis. Ah! Dá medo.
(Sim, Freud as vezes explica)
PS: preste atenção na linguagem visual dos letterings do começo do filme. Algumas letras são desenhadas ao contrário. Bela sacada.

A noiva cadáver

Tim Burton filmou uma história linda. Tema down, visual meticulosamente inglês, um roteiro que faz paródia com o suspense e a surpresa: uma obra sobre o amor, sobre a antropomorfia do amor e da morte.
Além de ter uma direção de arte primorosa, o filme foi todo rodado em stop motion - o que significa filmar quadro a quadro cada um dos movimentos expressivos dos personagens.
Inacreditavelmente perfeito. Impressiona e emociona!

*** Ela é a noiva mais charmosa e esta
uma das cenas românticas mais inesquecíveis do cinema
http://www.youtube.com/watch?v=s7A7ZFf9zjs

Em nome do TIM, do espírito, santo, amém !!!

O Castelo Animado

Hayao Miyazaki, ganhador do Oscar pelo longa "A Viagem de Chihiro" vem a nocaute no segundo round, "O Castelo Animado".
Com uma estética deslumbrante e uma narrativa cheia de sutilezas, "O Castelo" convoca o espectador para além das projeções no mundo de fantasia (demasiadamente humano) que Miyazaki cria.
Uma história que desafia os parâmetros dos contos de fada – e de toda a previsível pirotecnia disney/pixar-, desenrolando-se numa polifonia simbólica que destitui-se do maniqueismo típico das histórias infantis. Um filme para crianças que todo adulto deveria ver.